quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Saindo do armário.

Fim de ano, época de arrumar o armário. Tirar as roupas que não uso mais e doa-las para que façam a alegria de outros que as irão receber.

Após passar por roupas de verão, inverno e moda praia, chego numa parte inevitável, porem não agradável de limpar.

Todas as vezes que abro aquela parte do armário sinto que deveria fazê-lo com um borrifador de água benta empunhado em uma mão e um crucifixo em outra para que o “demônio” que mora lá dentro saia de vez.

Sempre é assim, acho que me livrei de todas as lembras, mas é só mexer um pouquinho e elas reaparecem.

Começo pela parte mais legal: cadernos da faculdade do quinto semestre pra frente, época em que a faculdade passou a ter mais cor, vida. Os amigos inseparáveis e o bar inevitável. Cadernos coloridos e em ordem, cada um de um personagem diferente. Passo pelo caderno das “meninas superpoderosas” e lembro do dia que o Leo me falou: “Lyly, com que moral eu jogo um caderno rosa das meninas superpoderosas na mesa do meu estagiário e mando ele xerocar o caderno todo? Este caderno é coisa de veado”, falava como seu eu fosse um menino e não pudesse ter um caderno rosa.

Adorava o “rotulo” de ser organizada e ter toda a matéria em dia, odiava não saber com quem meu caderno estava no final de semana antes da prova.

Li todas as “notas da Clara” e as “notas da Lyly” pelos cadernos, todos os cantinhos que tinham um “vamos lá TIME” do Thi, e os “vamos comer coxinha?” da Saroka. Vira e mexe também tinham alguns bilhetes e fotos de churrascos, ao olhar uma lembrei do comentário do Jão “A Lyly tava tão louca neste churras que ela estava segurando a latinha de cerveja ao contrario”, na seqüência veio alguém que já nem lembro mais e arrumou “você não lembra? Ela estava tomando na bundinha!” . Ri como se todos os momentos bons estivessem ali na minha frente.

Mas tudo que é bom dura pouco, tive que pegar os dos primeiros quatro semestres. Logo de inicio encontro um jornal da faculdade com uma foto enorme do “demônio” na feira de meio ambiente, lixo na certa. Paginas depois um “eu te amo minha linda” num cantinho da pagina. Fechei tudo, vou deixar assim mesmo.

Resolvi abrir o livro de cálculo, imaginando quantas das regras que aprendi com ele ainda uso. Lá encontro uma folha solta com um exercício feito, era a letra dele e mais um “para minha linda”. LIXO, assim como todas as lembranças que achei e pude me desfazer. Fim do “demônio” eu acho.

Vou pra outra gavetinha, um lenço de seda amontoado num canto. Abro, algo metálico cai.

Pra minha surpresa era uma aliança de prata, com o nome dele escrito. Coloco no dedo e começo a pensar se teria mudado de material e de mão como havíamos planejado.

CHEGA LYLY. Melhor tirar isto do dedo, está parecendo o anel do Senhor dos Anéis, o uso só te faz mal.

Penso o que fazer com aquilo, transformo em brincos? As vezes alguns resíduos são difíceis de ser corretamente destinados ate mesmo por uma engenheira ambiental.

Quer saber? Vai pro lixo mesmo, como todo o resto.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Infância com gosto de manga

Foi um dia normal, pelo menos começou normal: banho, trabalho, casa.

O jantar também foi normal e ao terminar fui “fisgada” pelo cheiro de manga que vinha da fruteira. Não resisti.

Logo veio o comentário da minha mãe: Gostoso mesmo era comer manga na árvore, fazia isso quando criança.

Neste instante senti que parte da minha infância tinha sido roubada. Nunca comi uma manga na árvore, e não era falta de uma mangueira, na casa dos meus avôs em Santo André tinha uma.

Pensei no que “roubaria” dos meus filhos, já que também não brinquei na rua, seria o vídeo-game seja ele qual for?

Logo esqueci esta idiotice e voltei a pensar na mangueira na casa dos meus avôs e meus pensamentos me fizeram pegar o carro e ir ate lá, mesmo que fosse tarde.

A casa já não é mais nossa, foi vendida assim que meus avôs “não precisaram mais dela”. Fiquei olhando aquele muro enorme que o atual dono colocou. Fiquei de ponta de pé, e não vi mais a mangueira enorme.

Neste mesmo momento toda minha infância veio a minha cabeça: o quintal enorme, os churrascos com a família reunida, do dia que minha bicicleta perdeu as rodinhas, os abraços cheios de lagrimas e saudades, os dias felizes, os dias tristes, os primos brincando e brigando, o papagaio chamando “véiaaa”, o suco de laranja feito só pra mim, a soneca da tarde, a roseira que ninguém poderia chegar perto, a casa simples, mas construída pelo meu próprio avô.

Nada disso esta mais la, o atual dono precisava apenas do terreno para fazer “carga e descarga” do material que chega na grande loja de ferragens.

Uma lagrima saiu dos meus olhos e o vento fez um carinho no meu rosto, talvez fossem meus avôs dizendo pra eu ficar feliz pelo que vivi, e não triste pelo que acabou. Enxuguei a lagrima e voltei pra casa, muitas emoções pra um fim de dia “normal”.

Voltar a escrever

Sim, finalmente resolvi voltar a escrever!
Resolvi voltar a sentir,criar, escapar, transmitir; ser quem eu não sou, quem gostaria de ser; dizer sem dizer, cutucar sem perceberem.
Libertar os sentimentos que o "x", "y" e "z" me fizeram esquecer que existiam, deixar o meu "eu lírico" ir ao bar e voltar com histórias fantásticas, ir ao cinema com quem numa iria na realidade, brincar, correr, dançar.
Sim, "os velhos olhos vermelhos voltaram de vez"